Por Juliana Costa Vargas*

A poesia que relata o drama de Ismália, a mulher que do alto de uma torre se lança ao mar, embora escrita em 1910, não poderia ser mais atual. O que outrora era visto como loucura, hoje sabemos se tratar de doença mental.

85% dos servidores se encontram em risco de adoecimento mental, revelou a recente pesquisa do CNMP. O ambiente de trabalho, permeado de abusos, assédios e humilhações têm contribuído, consideravelmente, para esse quadro desolador de servidores adoecidos.  E os MPs dos Estados seguem em silêncio, ignorando as diversas Ismálias presentes nas instituições.

Esconder o problema, sob o véu da hipocrisia institucional, fará com que ele desapareça? Em cada corredor, em cada baia, em cada estação de trabalho, uma Ismália prestes a se lançar das torres imponentes dos MPs. A poesia quer nos fazer crer que alcançar a lua libertaria Ismália do seu sofrimento. Já nossos colegas permanecem sofrendo em silêncio, já que não acreditam na redenção de suas chefias, nem tampouco na seriedade das instituições em zelar pela sua saúde mental.

A desumanização dos trabalhadores faz de Ismália apenas um corpo, que morreu na contramão, atrapalhando o tráfego. Ismália, Ismália, Ismália… Quis tocar o céu, mas terminou no chão! Qual será o limite da barbárie em que vivemos? A arte denuncia que esse limite já foi ultrapassado há bastante tempo… 

*Juliana Costa Vargas é Vice-presidente da Assemperj|Sindsemp-RJ. Servidora pública há 23 anos, técnica do MP desde 2014, bacharel em Direito/UFRJ e Mestranda em Políticas Públicas em Direitos Humanos/UFRJ.

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