Considerada a maior mobilização feminina do país e da América Latina, a Marcha das Margaridas teve início no ano 2000. Com o objetivo de protestar contra a violência e exploração no campo e ao mesmo tempo repudiar o assassinato da agricultora paraibana, Margarida Alves, a marcha simboliza a luta das mulheres do campo e das florestas.

Como entidade de classe, a Federação carrega em sua bandeira de atuação a luta por igualdade de gênero e a defesa dos direitos das mulheres. As questões femininas sempre foram pontos de pauta dos debates nas instâncias da Federação.

Nesse sentido, a participação efetiva da Fenajufe na Marcha das Margaridas foi deliberação do 10º Congrejufe realizado em 2019. Naquele ano juntamente com os sindicatos de base, a Federação organizou e criou o grupo “Margaridas do Judiciário”.

Nesta sétima edição que reuniu  em torno de 120 mil mulheres na capital federal, visando maior representatividade do PJU e MPU a Fenajufe participou de forma unificada com a Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados (Fenajud) e a Federação Nacional (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Ministérios Públicos Estaduais (Fenamp) e, juntas, compuseram a ala da região centro-oeste representando as “Margaridas do sistema de justiça”.

Para Arlete Rogoginski, coordenadora da Fenajud, participar da marcha representou um momento de muita emoção e esperança de que “a nossa luta resultará num país sem fome, sem desigualdades sociais, raciais e de gênero”. Ainda segundo dela, Margarida Alves é uma “heroína da Pátria” que se eterniza como símbolo de luta e resistência de milhares de mulheres e homens trabalhadores que, assim como ela, não fogem da luta!”

Já Sandra dos Santos Zembrzuski, vice-coordenadora para Assuntos Jurídicos e de Relações de Trabalho da FENAMP, afirmou que, após “resistirmos durante seis anos de desmonte das políticas públicas e sociais, agora com o governo Lula veio a oportunidade de manifestarmos e manter a luta por igualdade, trabalho e inclusão nos espaços de poder”. A dirigente falou da importância da marcha para exigir o fim da violência de gênero, do racismo e da misoginia.

A coordenadora da Fenamp citou o assassinato da Ialorixá “Mãe Bernadete”, morta com doze tiros dentro de casa, no mesmo dia da marcha. “É preciso punição para os assassinos. A Mãe foi morta por ser uma liderança quilombola, segregada duas vezes, por ser mulher e negra”.

Lucrécia Iacovino, coordenadora da Pasta de Pessoal (TAEs) do Sinasefe, participou desde o início da organização com a Federação. Essa foi a segunda vez que acompanha a marcha e agradece a iniciativa da Federação em agregar mulheres urbanas na pauta das trabalhadoras do campo e das florestas. “Fiquei impactada desde o primeiro momento, foi muito aprendizado, esperança e muita garra.” A dirigente relembrou que em 2019 o golpe já havia se instalado no País, com a prisão do presidente Lula e ainda assim, as mulheres foram às ruas pedir justiça e a volta da democracia. Ela agradece a oportunidade de “aprender com as Margaridas do Brasil”.

A Marcha das Margaridas é uma ação estratégica das mulheres do campo e das florestas, com agenda permanente do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos feministas e de mulheres.

Por ser uma luta permanente, as mulheres trabalhadoras rurais seguem, diariamente, lutando para romper com todas as formas de discriminação e violência, que trazem consequências perversas à vida delas.

Entre outros pontos, a maior mobilização política da América Latina busca garantia de direitos das mulheres do campo, pôr fim às desigualdades de gênero, de classe e étnico-raciais e à opressão, com a eliminação da violência a que estão sujeitas.

Origem

O nome da Marcha é uma homenagem à líder sindical Margarida Maria Alves, que morreu em 1983, em Alagoa Grande, Paraíba. Sua morte causou enorme comoção e revolta, pois Margarida foi assassinada com um tiro a queima roupa disparado por um matador, a mando de um proprietário rural da região. Este crime nunca foi solucionado pela Justiça.

Margarida Maria Alves nasceu em 5 de agosto de 1933, em Alagoa Grande, no Brejo da Paraíba. Neste ano seu assassinato covarde completa 40 anos.

Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. Durante 12 anos na presidência da entidade, lutou para que as trabalhadoras e trabalhadores do campo tivessem seus direitos respeitados, como carteira de trabalho assinada, férias, 13º salário e jornada de trabalho de 8 horas diárias.

Margarida Alves foi uma das fundadoras do Movimento Mulheres do Brejo, que articula as lutas das mulheres com as lutas do campo. Assim como também influenciou no incentivo à educação política dos trabalhadores do campo, mais uma herança deixada por ela.

A sindicalista semi-analfabeta foi fundadora do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, programa de alfabetização para adultos e filhos de agricultores inspirado no modelo do educador Paulo Freire.

O legado de Margarida Maria Alves foi plantado em todas as regiões do país e comunidades ribeirinhas e quilombolas. Seu nome é lembrado também como precursor na luta pelo fim do trabalho infantil nas lavouras e canaviais.

Antes de morrer Margarida Maria Alves já havia plantado esperança nos campos do interior da Paraíba. A mais significativa colheita veio em forma dos direitos alcançados pelos trabalhadores rurais. A conquista dos direitos dos trabalhadores da terra representava para ela o resgate de tudo que o sistema tinha retirado dela e de gerações passadas. A líder sindical se transformou em símbolo de resistência e luta contra a violência no campo, pela reforma agrária e fim da exploração dos trabalhadores rurais.

O livro “Margarida, Margaridas: Memória de Margarida Maria Alves (1933-1983) através das Práticas Educativas das Margaridas”, da professora doutora Ana Paula Romão de Souza Ferreira, conta, além da trajetória de Margarida, a importância do seu legado.

As frases proferidas pela sindicalista “Medo nós temos, mas não usa!” e “Da luta não fujo, é melhor morrer na luta do que morrer de fome” ecoam até hoje como pavio para a manutenção da luta.

Fonte: Editado de Fenajufe

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